sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

tentativas

Tentava dormir. Não conseguia.
As horas passavam e todo o peso do universo parecia estar ali, do lado da cama, esperando que ela levantasse para posicionar-se sobre seus ombros.
Ela, que tinha vindo ao mundo sem raizes e sabia que sua vida cabia em uma mala qualquer. Que tanto enfrentou o mundo e agora se via consumida por ele.

Não queria levantar da cama. Tinha medo do que viria pela frente. Sem coragem pra ficar de pé, muito menos pra correr atrás de qualquer sonho.
A cabeça perturbada pela culpa e auto-julgamento. "Vamos acabar com essa preguiça." Esqueceu como colorir a vida, então enchia de cores seus livros. Não tinha como pôr ordem nas emoções, arrumava o quarto. Tudo em linhas retas, como imaginava que deviam ser os caminhos.

De tanto medo de ficar sozinha, acabou ficando. Sofria só de imaginar o que poderia estar acontecendo, o que ninguém teria coragem de contar. Escatologias. Perdia o sono e a fé em um futuro melhor, jogou tudo pro alto e decidiu seguir como veio ao mundo: desacompanhada.

Não deveria tentar convencer ninguém de suas verdades, mas sofre pelo que fica escondido atrás da vidraça, da risada alta e das piadas sobre tudo.
Era desespero, todo mundo sabia. Mas ninguém queria enxergar a realidade.

"Isso é vida?" Não. Nem de longe. Mas deixa a vida pra acontecer depois. Depois de estar tudo no lugar certo, milimetricamente posicionado, exatamente onde deve estar.
Acordava cedo, lavava o rosto e colocava em prática a sua especialidade: seguir em frente. Tentando acreditar que alguma coisa vai ter que dar certo.