quarta-feira, 9 de novembro de 2016

10º

Hoje acordei às seis. Vesti a camisa das minhas escolhas, lavei o rosto e comecei a fazer tudo que eu tinha planejado antes de dormir. Talvez eu não tenha feito os planos, alguém os fez por mim. Não importa.
Segui a dieta, fui à academia, dei "bom dia" pro porteiro e pra moça do elevador. Brinquei com o cachorro da vizinha. Como todos os dias, me perguntei se era isso mesmo. Respondi com uma certeza incomum que sim. Era isso que tinha pra hoje, até que o hoje cansasse de repetir o ontem de uma maneira cada vez mais desgastante.
Hoje não tive vontade de falar pra você como o dia foi difícil, ou do quanto as coisas estão complicadas. Ou que ontem esqueci de tomar meu remédio e só consegui dormir muito mais tarde que o normal. Nem da dieta louca, ou que eu odeio estudar o mesmo assunto pela décima vez e continuar sem entender nada. Muito menos da minha vontade de me esconder do mundo, num lugar onde eu não precisasse provar nada pra ninguém. Perdi essa vontade quando eu percebi que meu cansaço lhe parecia fraqueza. 
(Dispenso a falta de sinceridade, sei que você nunca me entendeu) 
Tenho amigas que concordam comigo, ou pelo menos parecem concordar e, por hora, isso me basta. Tem email de trabalho. Tenho que visitar meus pais. Estou com saudade do meu cachorro. Amanhã tem muita leitura. Uma amiga pergunta como estou sem saber de você. Digo que "bem". Não posso direcionar minha energia aos questionamentos do que você está fazendo agora, bem porque deixou de ser minha competência. 
Durmo aliviada por ser essa pessoa que lida bem o finais.  Me entristeço pelo medo que estou dos começos. 
Sigo sem muito interesse pelo que acontece do lado de fora. Aqui estou segura, construindo um futuro que não sei quando vai chegar e onde eu me prometo uma felicidade que me move a continuar lutando. 
Durmo sem ninguém que me dê boa noite ou me faça sorrir por qualquer motivo.
Amanhã acordo às seis.